sábado, 26 de maio de 2007

Geografia Física








Geografia Física - conceito, objeto

Introdução

Muito antes do surgimento da ciência, a Geografia já usava a natureza como o seu objeto de estudo. A descrição de regiões era um hábito e uma necessidade para os povos da Antigüidade. Descrever uma região nova era importante, porque se assinalavam os lugares em que os recursos naturais podiam ser encontrados e explorados. Não se fazia uma análise dos fatores geográficos – eles eram apenas descritos.

Contudo, a Geografia deu um salto muito grande na segunda metade do século XX – deixou a simples descrição dos fatos para procurar explicá-los, e isto já vinha se desenhando desde fins do século XIX, quando o geógrafo francês Paul Vidal de La Blache (1845-1918) criou o que se chamou de Geografia Regional.

Os antigos desbravadores e viajantes, desde os povos da Antigüidade até os naturalistas europeus, que vieram para as Américas ou percorreram o mundo todo, faziam detalhadas descrições dos povos e dos lugares por onde passavam. A descrição era o método empregado pelos historiadores e geógrafos de outrora. Esse método predominou, de modo geral, até o fim da Segunda Guerra Mundial. Com o fim do conflito, novas formas de pensamento, que influenciaram enormemente o comportamento da humanidade, passando pelas ciências, artes, filosofia e, de resto, por todo o conhecimento humano, acabaram por desenvolver novos paradigmas, novas maneiras de analisar a natureza e próprio homem e as suas relações. Os geógrafos perceberam que os métodos, até então usados na Geografia, eram insuficientes para conhecer com profundidade os fatos geográficos. Não bastava descrevê-los – era preciso explicá-los, porque a complexidade da paisagem geográfica era muito grande para que se fizesse apenas um relato. Notaram eles que os fatores de origem natural e os de origem humana se interpenetravam e se completavam e, desta forma, não podia mais ser descritos sem que houvesse uma explicação coerente, que integrasse os fatores humanos e físicos.

Esta idéia de que a natureza e o homem formavam um só corpo não era nova, e os seus fundamentos estão na Antigüidade, sobretudo, em meados do século XIX. Pitágoras e Aristóteles, na Grécia Antiga, já haviam desenvolvido uma visão unificada da natureza (Branco, 1989: 3). No final da Segunda Guerra, abriu-se uma nova percepção da natureza para a Geografia, que acompanhava a própria evolução da ciência, que tivera um amplo desenvolvimento desde o início do século XX, notadamente, desde os anos 20.

Até então, a ciência era tida como um conjunto de disciplinas separadas, que não se ligavam. À medida que a ciência avançava, por exemplo, com as descobertas das partículas do átomo, problemas e concepções ia surgindo em campos diferentes. Os cientistas perceberam que esses problemas não se limitavam a um só ramo do conhecimento, mas podiam ser percebidos em todos eles – não eram fatos isolados específicos de uma única ciência, mas comum a todas as ciências. Compreenderam, então, que fatos isolados não existiam na natureza. Havia um todo, um conjunto de fatores interligados, que, juntos, consistiam este todo. Portanto, não se podiam estudar casos isolados, mas, sim, o todo, em conjunto, dentro do ponto de vista de uma organização e uma ordem.

Dessa discussão surgiram duas linhas de idéias: o holismo e o reducionismo ou atomicismo. O reducionismo reduz o todo às suas partes elementares, até que ele acabe perdendo a sua identidade – parte do princípio que se tem de dividir para conhecer (sic) (Branco, 1989: 1). Contudo, dividir excessivamente o conjunto leva a uma quebra da unidade. Por exemplo, os capítulos de um livro podem ser destacados do corpo do livro. Acontece que os capítulos se ligam uns aos outros para formar uma idéia completa. Se subtrairmos um ou mais capítulos do livro, ele perderá a sua unidade e se tornará de difícil compreensão. Se todos os capítulos forem arrancados, o livro perderá a sua identidade.

O holismo tem um enfoque oposto ao reducionismo. Na sua ótica, os componentes de um conjunto estão ligados entre si, e este conjunto é estruturado, unificado e hierarquizado, isto é, tem uma ordem interna. Para estudar o todo, é necessário compreender as suas partes correlacionando-as umas com as outras – o estudo não pode ser isolado. O carburador do motor de um automóvel, por si só, não significa muito. Apenas terá uma função quando fizer parte do conjunto do motor, atuando com os demais componentes. No estudo da ecologia ou da fitogeografia, uma árvore só terá significado se fizer parte de um conjunto de árvores – um bosque, uma floresta. Sozinha, a árvore não diz muito do ambiente em que se encontra.

Essa nova concepção, surgida principalmente na década de 20, graças às descobertas que se faziam, sobretudo, na Física Quântica, mudou a forma de pensar dos cientistas, e acabou por erigir um dos pilares da ciência moderna.

Passou a Geografia , então, por uma reformulação completa, que acabou por salientar, nela, a existência de diversos ramos, tais como a Geografia Tradicional ou Clássica, que segue o método de de La Blache, a Nova Geografia ou Geografia Quantitativa, que introduziu o uso da metodologia científica e a matemática na análise geográfica, a Geografia Humanística, que emprega a fenomenologia (o estudo da consciência sob o ponto de vista do comportamento humano), a Geografia Idealista, que estuda as ações envolvidas pelo pensamento, que levam às atividades humanas, a Geografia Radical ou Marxista ou, ainda, Crítica, que analisa os aspectos sociais à luz do marxismo, a Geografia Têmporo-Espacial, que estuda as atividades do homem segundo o tempo e o espaço traçando ritmos de vida (Christofoletti, 1982: 28).

Estes ramos distribuíram-se pelos dois principais campos de estudo da Geografia – a Geografia Física (que se abriu na Geomorfologia, Climatologia, Biogeografia, Geofísica, Hidrologia, etc.) e a Geografia Humana (da qual derivaram as Geografias Econômica, Agrária, Industrial, etc.). Este fato é conhecido como o dualismo da Geografia, que tem suscitado discussões intermináveis. O dualismo geográfico não é recente – data do século XVII.

Esses dois campos da Geografia foram criados pelo médico e geógrafo alemão Bernardo Varenius (1622-1650). Em 1650, pouco antes de morrer, aos 28 anos de idade, ele dividiu a Geografia em dois campos, que resultaram na divisão atual. Para ele, a Geografia física estudava apenas os aspectos físicos - litosfera, hidrosfera, atmosfera – que podiam ser explicados pelas leis naturais físicas e matemáticas. A este ramo, ele denominou de Geografia Geral. O outro campo ele chamou de Geografia Especial ou Regional, que estudava os fatores sócio-culturais, que não podiam, segundo o seu o ponto de vista, ser examinados pelos métodos científicos. Durante muito tempo, a geografia geral foi considerada o único ramo estritamente científico da Geografia .

A divisão, que acabou conhecida como o dualismo da Geografia , perdura até hoje. Dentro da ótica de Varenius, a Geografia física podia usar métodos e leis científicos, mas a Geografia Humana deveria apenas descrever regiões, cujas características provinham da atuação da população sobre o meio físico, numa relação de causa e efeito. A atuação da população humana no meio físico tinha como resultado a elaboração da paisagem geográfica e de culturas diferentes, que eram, então, o objeto de estudo da Geografia Humana. Vê-se que Varenius já imaginava uma Geografia integrada – o homem atuando no meio físico, modificando-o e criando paisagens diferentes, embora Varenius separasse bem os dois campos de estudo e as paisagens ou regiões fossem apenas descritas.

Classificar a Geografia em grupos estanques é um fato que segue a própria tendência do homem em ordenar a ciência em campos diversos, que não se interprenetram e se mantêm distantes. A ciência foi, originariamente, subdividida em três setores muito rígidos: as ciências naturais (ciências da terra e ciências biológicas), as ciências exatas (matemática, física, química) e as ciências humanas. Esta subdivisão arbitrária, embora ainda persista, não tem mais razão de ser, e estes setores não são mais independentes. Estes grupos estão, agora, interligados, mas, ainda assim, a subdivisão existe.

A Geografia está incluída tanto no campo das ciências naturais – as geociências, com a Geografia Física, a Climatologia, etc. – quanto no ramo das ciências humanas – Geografia Humana, política, econômica, etc. No entanto, modernamente, incluir a Geografia neste ou naquele ramo, é totalmente irrelevante. Pode-se dizer, entretanto, que a geografia se localiza no meio caminho entre o homem e o meio, porque tem que compreender ambos.


Monteiro (cit. por Mendonça, 1991: 19) mostrou, num esquema simples, a posição da geografia no campo das ciências. Veja a figura da próxima página. De acordo com Monteiro (id.), a geografia está voltada para o estudo das modificações que o homem impõe no meio físico. Tendo o homem como o seu objeto de estudo, a geografia é uma ciência social. Ela faz parte das ciências humanas, mas é uma ciência do espaço – a sua principal característica (Mendonça, ib. p. 19). Significa dizer, que o estudo geográfico tem, obrigatoriamente, que considerar o homem e o meio, o espaço, em que ele vive. Obviamente, temos que atentar para a tendência do geógrafo, porque, forçosamente, ele penderá para um dos campos – humano ou físico. Neste caso, segundo a sua inclinação, enfatizará mais um ou outro campo. Contudo, uma análise geográfica bem feita deveria atender os dois campos de maneira eqüitativa. Embora não seja impossível, o mais comum é ele acentuar a sua índole. Monteiro faz uma análise perfeita e consegue agregar os dois ramos de pesquisa de maneira coerente.


As subdivisões da ciência, por serem arbitrárias, caíram em desuso – mas os diversos campos de estudo perduraram, no entanto, sob um ponto de vista integrado, interdisciplinar, não mais em setores isolados. O mesmo se deu com a Geografia. Na década de 20, avanços nos estudos da filosofia das ciências mostraram a existência de fatos e eventos, que podem ser estudados dentro de um ponto de vista único. Isto sugeria que os diversos ramos da ciência não estavam separados, mas, sim, unidos, formando um corpo só. Por exemplo, a biologia precisa buscar auxílio na física e na química e, ao perceberem isto, os biólogos ampliaram o seu campo de estudo. O mesmo se deu com todas as demais ciências – elas não conseguem explicar muitos fatos ou fenômenos por si sós, mas têm que procurar explicá-los em conjunto com outras ciências.


A geografia não consegue fazer uma análise adequada da paisagem sem o auxílio de ciências como economia, sociologia, antropologia, climatologia, meteorologia, ecologia, estatística, geologia, geomorfologia, etc.


Os cientistas, naturalmente, estudam os fenômenos naturais segundo a sua própria ciência. Para isto, empregam o método científico – que é comum a todas as ciências. Formulam hipóteses específicas, que levam a resultados específicos. Por exemplo, a chuva pode ser estudada sob o ponto de vista da geografia, da meteorologia, da climatologia, da física, da química, da biologia, das ciências humanas, etc. Os resultados que cada uma obterá serão diferentes para o mesmo objeto de estudo.


Método é um conjunto ordenado de processos que um cientista – ou uma pessoa – emprega na investigação e demonstração da verdade[1]. O método científico é um instrumento para ordenar e sistematizar o estudo.

Em meados dos anos 40, os geógrafos já haviam, pois, percebido que a geografia não poderia atuar sozinha, dada a complexidade da natureza, e, sobretudo, a complicada atuação do homem no meio físico, que alterava toda a dinâmica da natureza em maior ou menor grau. Surgiu, então, outra questão, que não foi solucionada e perdura até hoje – qual o objeto da Geografia e qual o seu propósito?


A Geografia como ciência


O positivismo do filósofo francês Augusto Comte (1798-1857) é uma das bases em que se apoia a ciência moderna. O positivismo é uma linha de pensamento filosófico que considera o estudo dos fatos concretos sem qualquer intervenção metafísica, isto é, enfatizando a experiência empírica. O positivismo forneceu as bases do método científico, sobre o qual se apoia a ciência e no qual a ciência foi buscar a sua união. Para chegar ao objetivo, deve a ciência criar e verificar hipóteses com o objetivo de estabelecer leis gerais, que não sejam específicas a apenas um determinado conjunto de circunstâncias – isto é, leis que possam ser usadas em qualquer investigação. A teoria da evolução de Darwin foi um dos pilares da moderna abordagem científica, porque as suas leis podem ser aplicadas a todos os seres vivos (Gregory, 1992: 47).


La Blache, em 1909, afirmava que a missão da Geografia é entender como as leis físicas e biológicas, que governam a natureza, "(...) se combinam e se modificam, aplicando-se às diversas partes da superfície (...)".


Apoiando-se nesses princípios, a Geografia moderna, desenvolvida após a década de 40, estabeleceu quatro campos de estudo principais (Pattison, 1964, cit. por Oliveira, 1976):

1 – espacial – refere-se às relações que ocorrem na superfície terrestre;

2 – área – as características do lugar ou da região;

3 – a Terra – que considera as relações do homem com o seu ambiente (que é a Terra, como planeta, onde vive o homem);

4 – ciências da Terra – descreve a explica os aspectos naturais da superfície da Terra.

Ludwig von Bertalanffy (1901-1972), biólogo austríaco, sustentando-se na idéia de que as ciências têm leis gerais, que podem ser estendidas e aplicadas a todos os seus ramos, criou a teoria geral dos sistemas (1975: 54). Bertalanffy pretendia desenvolver um modelo que se amoldasse a todos os sistemas, isto é, pudesse ser usado por todos os setores da ciência, porque, afirmava ele, a natureza é governada por leis gerais, que são as mesmas em todos os níveis. Então, "(...) uma lei (...) de crescimento aplica-se a certas células bacterianas, a populações de bactérias, de animais ou de seres humanos e ao progresso da pesquisa científica (...)”. Em outras palavras, esta única lei matemática pode ser usada para estudar a população de bactérias, de animais ou do homem.

A complexidade que a ciência e a sociedade humana estavam atingindo, notadamente depois da Segunda Guerra Mundial, levou os cientistas a considerar com mais atenção este entrelaçamento das disciplinas da ciência. Concluíram, então, que elas não estavam separadas, mas, sim, unidas, da mesma forma que a sociedade humana se misturava em complexas unidades – cidades, comunidades, sistemas sociais, econômicos, políticos, etc. – que se interligavam de maneira a originar um mosaico de fatos e regiões com caraterísticas e propriedades diferentes, mas que se completavam.

Foi com esse pensamento que, no fim da Segunda Guerra Mundial, os cientistas perceberam que as coisas iam mudando com grande rapidez e era preciso encontrar meios de acompanhar as mudanças e compreendê-las.

Os problemas ambientais e sociais passaram a ser encarados de um modo mais contundente. O comportamento do homem mudou com rapidez graças ao advento da televisão, à expansão da imprensa e do cinema, da literatura, a ciência deu um salto gigantesco, a agricultura criou novas técnicas, a indústria cresceu em quase todos os países, a expansão das cidades foi rápida, doenças foram erradicadas graças à evolução medicina, a população aumentou aceleradamente, não só porque a taxa de natalidade cresceu, mas, também, devido à redução da taxa de mortalidade em razão de um melhor tratamento de saúde – tudo isso, e muito mais, resume a causa da transformação que a humanidade foi palco a partir do fim da Segunda Guerra. As conseqüências refletiram-se, não apenas no homem, mas, também na ciência, que se viu obrigada a procurar novos paradigmas.


A teoria geral dos sistemas de Ludwig von Bertalanffy (1975), desenvolvida a partir da década de 30, era o método que fornecia a base para o entendimento dessa situação, porque procurava integrar todos os elementos da natureza e os humanos num conjunto único – um sistema – no qual pudessem ser estudados integradamente e não separados.

A Geografia não ficou atrás – todavia, foi uma das últimas ciências a utilizar o paradigma sistêmico. A Ecologia, por exemplo, já fazia uso dos conceitos sistêmicos desde os anos 30. Os geógrafos viram que a Geografia de até então, desde o final do século XIX, denominada de Geografia Regional, criada por Vidal de la Blache, não tinha métodos eficazes para enfrentar essas mudanças, porque era tratada de forma estática. Urgia a busca de um novo modelo, mais dinâmico, mais integrador. A rapidez com que as coisas se davam era muito grande e os métodos tradicionais continuavam estanques e não conseguiam explicar convenientemente as mudanças. La Blache, como os geógrafos da sua época – e anteriores – consideravam a natureza unificada. Contudo, separavam nitidamente a geografia física e a geografia humana, afirmando que primeiro devem-se estudar os fatores físicos e, só então, os fatores humanos serão compreendidos. Não havia, contudo, uma ligação entre os dois campos, que seguiam estritamente o que propusera Varenius. Este método dava um caráter estático à análise geográfica.

Entretanto, não se podia mais estudar a paisagem com os seus elementos apartados, porque ela formava com outras paisagens um conjunto interligado, cujas influências eram mútuas. A idéia agora era de uma paisagem dinâmica, em constante ebulição – e não mais estática – que exigia métodos dinâmicos para ser analisada. A moderna abordagem da geografia regional usa métodos científicos e integrados para estudar os componentes físicos e humanos e não mais os considera separados. Não usa, necessariamente, a teoria de sistemas, mas pressupõe uma integração de fatores geográficos.

Para poder estudar todo esse conjunto de fatos, a Geografia foi buscar apoio em outras ciências. Mas, como disse Oliveira (1976), uma disciplina não vira ciência apenas sistematizando ou buscando dados em outras ciências. Antes de mais nada, ela precisa empregar o método científico, fazer comparações, enunciar e verificar hipóteses.

Ao situar o seu campo de estudo tanto nas ciências humanas quanto nas naturais, a Geografia fica sem um lugar específico para se abrigar – ela tanto é geociência, quando estuda a superfície da Terra, como é ciência humana, quando estuda o homem e o papel que ele exerce no meio físico.

Habilmente, os geógrafos resolveram o problema – a Geografia se situa num ponto eqüidistante entre as ciências da terra e as humanas. Por esta razão, ela busca dados e conhecimentos nos dois extremos.

Desta forma, principalmente após os anos 40, as outras ciências influenciaram enormemente o desenvolvimento da geografia . Os diversos campos da Geografia se consolidaram, desde então. Por um lado, este fato a fragmentou, e os geógrafos se esqueceram de que ela é única, o que dificultou o estabelecimento do seu objeto e do seu objetivo. Cada uma das geografias, entretanto, desenvolveu o seu próprio objeto de estudo, o seu método e o seu objetivo. Por outro lado, isto permitiu a criação de um corpo de idéias muito sólido em cada uma delas e cada um dos ramos evoluiu conceitualmente estabelecendo métodos de pesquisa próprios na Geografia física e na humana.

Era, indubitavelmente, um paradoxo. De um lado, a ciência se unificou. De outro, a Geografia se desuniu. Contudo, cada ramo da Geografia apoia-se numa base científica muito sólida – tem objeto de estudo, objetivos e métodos específicos.

A Geografia partiu, então, para estabelecer o seu método de trabalho, para procurar um objeto de estudo – que na Geografia lablachiana é a região. Entretanto, a visão lablachiana, como vimos, era estanque, isto é, a região era estudada segundo os fatores físicos e humanos, em separado, embora, La Blache sustentasse, como também vimos antes, que os fatores naturais e humanos se completavam. Ele não via o homem e a natureza separados, mas um influenciando o outro. Entretanto, para ele, primeiro, deviam-se abordar os aspectos físicos e, só então, estudavam-se os humanos. Por isto, ele dizia que a "(...) Geografia é a ciência dos lugares e não dos homens" (in Christofoletti, 1983). A Geografia lablachiana não era uma integração de fatos geográficos, mas uma sobreposição.

A corologia, isto é, o estudo de um território, era o objeto de estudo da geografia, em que os fatores físicos eram considerados em primeiro lugar. Contestando esta idéia, entrementes, o geógrafo francês Cholley (1964), salientando a integração, afirmou que o estudo deve ser feito em conjunto e não em separado. Os elementos geográficos se juntam, interagem uns com os outros, num processo que ele chamou de combinações. Os elementos geográficos são naturais, biológicos e humanos. Quando interagem, originam a paisagem geográfica, que é variada e nunca existem duas paisagens idênticas. Desta forma, a superfície terrestre, o espaço concreto, tornava-se o objeto de estudo da geografia. É diferente dos estudos corológicos, que consideravam o espaço geográfico, isto é, o território, formado por elementos separados, que não se combinam. A visão de Cholley é sistêmica, isto é, integrada.

Os fenômenos ligados ao ambiente, do ponto de vista ecológico, proporcionavam outro objeto de estudo – as relações entre o homem e o seu meio. É um tema antigo na geografia, e o geógrafo alemão Friedrich Ratzel, entre 1882 e 1891, no seu livro Antropogeografia , apreciava a relação do homem com o meio e afirmava a influência dos fatores ambientais sobre o homem, sustentando que o ambiente determinava o comportamento e as ações do homem. Ele criou, então, o determinismo geográfico, que influenciou a Geografia nas décadas seguintes em todo mundo – até a chegada de La Blache, que considerava a influência mútua homem/natureza. La Blache, em contraposição a Ratzel, criou o possibilismo geográfico. A teoria da evolução, de Darwin, mal interpretada, prestou-se muito bem para acentuar o determinismo

A concepção da influência da natureza sobre o homem levou muitos geógrafos europeus e americanos a adotar o que se chamou de perspectiva ecológica da geografia, que passou a ser considerada uma ecologia humana, preocupada com aspectos sociais oriundos do meio (Christofoletti, 1983). A interrelação do homem com a natureza resultava, por conseguinte, na paisagem geográfica. A paisagem é o aspecto discernível do espaço, é o que vemos diante dos nossos olhos. Todavia, não podemos esquecer de que existem dois tipos de paisagens – a paisagem de origem natural e a paisagem de origem humana, também chamada paisagem cultural.

A moderna noção de paisagem vem da geografia alemã com o termo Landschaft. A Landschaft exprime a noção de um território integrado em todos os aspectos – econômicos, políticos, físicos, sociais, culturais, etc. Isto forma uma unidade complexa, com personalidade própria. O termo significa, literamente, trabalhar, criar, a terraLand, terra; schaffen, trabalhar.

A Geografia sempre foi uma ciência de síntese. Nos tempos de Alexandre von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859), a Geografia preocupava-se com a integração dos elementos – ambos diziam que a natureza e o homem andavam juntos, um influenciando o outro. Ritter, em meados de 1820, disse que a natureza era formada por elementos que se completavam, aos quais chamou de sistemas, e que o homem não podia ser separado deles. No início do século XX, a Geografia Regional de La Blache, ao estudar os elementos em separado, acabou com a síntese, embora, como vimos acima, La Blache também considerasse o homem e a natureza interligados, inseparáveis.

A sintese é o estudo de todos os elementos de um lugar – ou de um todo – dentro de um ponto de vista conjunto, integrado. Na geografia, o estudo sintético resulta do conhecimento das relações que os elementos mantêm entre si. Por sua vez, as relações derivam de um conjunto de processos e mecanismos contidos num meio organizado. Uma região, objeto de estudo da Geografia Regional, tem uma organização muito clara. É esta organização que vai, quando os elementos biológicos e físicos interagem, originar a região. A região, por seu turno, é constituída por inúmeras paisagens geográficas, que se originam da mesma forma. Para Cholley (1951, cit. por Christofoletti, 1983), a organização é a base de toda região e, pois, de toda paisagem. Não se forma uma região se os seus elementos estão desorganizados.

O termo organização deveria ser aplicado somente quando se refere a uma região ou a uma paisagem criadas pelo homem (Christofoletti, 1983, citando Cholley, 1951). Para designar as unidades do meio físico, o termo domínio é mais apropriado – domínio geomorfológico, domínio climático, etc.

Para fazer a síntese dos elementos, a Geografia foi buscar auxílio na análise de sistemas. Devemos ter em mente, contudo, que síntese não significa estudar as partes do todo em separado e depois juntá-las para organizá-lo. O estudo sintético compreende o estudo do todo em suas partes componentes. Isto é, o estudo parte da integração das partes dentro do todo. O estudo sintético ou integrado não significa dividir o todo em suas partes componentes e estudá-las em conjunto. Na geografia, uma paisagem é estudada e maneira a relevar grupos de características mais ou menos homogêneas, que se reúnam num determinado lugar. O estudo integrado da paisagem mostrará, naturalmente, que os diversos grupamentos de características semelhantes exibem diferenças entre si. Então, originam-se, nessa paisagem, conjuntos de características específicas. Esses grupos formarão o todo da paisagem. A síntese geográfica é, pois, o estudo conjunto do todo.

O objeto da Geografia

A compreensão de que a região é organizada permitiu o estabelecimento do objeto de estudo da Geografia, como um todo, e não somente nos seus diferentes ramos. Uma vez que a paisagem converge para região, isto é, diversas paisagens compõem uma região, e que esta região, portanto, é um espaço delimitado por suas próprias particularidades, convencionou-se que o objeto de estudo da Geografia é a organização espacial. Todas as disciplinas da Geografia aceitam a organização espacial como o seu objeto de estudo.

Para Christofoletti (1982: 16) a geografia física moderna tem quatro preocupações: 1 – aplicação da metodologia científica; 2 – desenvolvimento de teorias; 3 – emprego da matemática e da estatística; e 4 – uso da análise sistêmica.

A análise sistêmica foi um importante passo dado pela Geografia na direção de um procedimento para integrar e sistematizar o meio natural e compreender com mais correção os seus processos dinâmicos. Seu emprego permitiu à geografia estabelecer o seu objeto de estudo.

O método sistêmico aplicado à Geografia física tem os seus fundamentos na Teoria Geral dos Sistemas desenvolvida pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy (1975: 53). A Teoria Geral dos Sistemas poderia unificar todas as ciências porque, na concepção de Bertalanffy, elas apresentam problemas comuns, traduzidos na interação dinâmica das partes que as compõem, como já sabemos (id., p. 53).

Ao pender para o estudo dos sistemas, a geografia física pôde individualizar melhor o seu objeto de estudo – a organização espacial. A teoria de sistemas considera a natureza formada por elementos interligados, chamados de sistemas, de cuja interação deriva a organização de uma região – também vimos isto antes. O termo organização significa a existência de uma ordem, de um entrosamento, entre os elementos no interior de um conjunto ou sistema (Christofoletti, 1983).

Os elementos do sistema têm uma função específica, isto é, funcionam e interagem uns com os outros de acordo com as suas próprias características. Por exemplo, a chuva é um elemento do sistema atmosférico. Ela tem uma função específica – alimentar os corpos d'água da superfície, os cursos d'água, os lagos, o lençol freático, fornecer a umidade necessária ao solo e à atmosfera, etc. A interação da chuva com o solo provoca a erosão. A erosão libera partículas do solo, que são levadas para jusante e vão entulhar os vales e podem originar solos férteis. Ou podem assorear os rios e causar enchentes.

Quando os elementos interagem uns com os outros, origina-se um arranjo específico em que cada elemento tem uma função e ocupa um lugar só dele, que não pode ser ocupado por outro elemento. Desse processo resulta uma hierarquia – cada elemento no seu lugar e com uma função específica. A hierarquia é principal característica da organização espacial.

O arranjo dos elementos muda constantemente, no interior do próprio sistema ou em outros sistemas, seguindo, daí, um mosaico de organizações espaciais diferentes, que são paisagens geográficas organizadas. Cada uma com as suas próprias características e propriedades.

A geografia não estuda o espaço geográfico, mas, sim a organização desse espaço. O espaço em si não significa nada, é um termo vago, mas a sua organização lhe dá personalidade. A análise de sistemas é o método empregado para fazer este estudo, porque fornece os procedimentos necessários.

Os sistemas têm tamanhos variados, que correspondem à quantidade de elementos que contêm. Seja um sistema grande, seja um diminuto, todos são organizados. Contudo, não é o seu tamanho que tem importância, mas, sim, a sua funcionalidade e coesão (Christofoletti, 1983). Por exemplo, uma floresta tropical, uma floresta temperada e um reflorestamento são organizações diferentes e têm funcionamento diferente. Nos três sistemas, o número de elementos diverge – a floresta tropical tem maior número de espécies que a temperada e o reflorestamento tem apenas uma espécie. A floresta tropical, por ter maior número de componentes, tem também maior coesão, isto é, o seu equilíbrio é mais difícil de ser rompido que o da floresta temperada. O reflorestamento é facilmente desequilibrado. Uma pequena porção da floresta tropical é muito mais complexa do que uma floresta temperada inteira.

Em outras palavras, as três formações têm limites de resistência muito diferentes. O limite de resistência da floresta tropical é mais complexo que o da temperada e muito maior do que o do reflorestamento. Quando o limite de resistência é ultrapassado, o equilíbrio é rompido e, como veremos adiante, um novo equilíbrio é estabelecido ou um novo sistema pode emergir quando o anterior não consegue voltar ao equilíbrio. O novo sistema, que surge daí, mostrará nova organização espacial.

As organizações espaciais fazem parte de uma hierarquia em que a menor organização espacial está contida na maior. Por exemplo, os bairros de uma cidade fazem parte de uma organização espacial maior, que é a cidade. A cidade pertence a uma organização maior, que é o município e este a uma organização maior ainda que é uma associação de municípios, cujo conjunto com outras associações constituirá um Estado. E assim por diante, até englobar todo o planeta.

O processo hierárquico, no meio natural, tem a mesma dinâmica.

O estudo e o objetivo da Geografia Física

O estudo do espaço organizado faz com que a Geografia física atual seja diferente da tradicional, que se preocupava apenas com os fatores físicos e humanos estáticos. O termo estático, aplicado à visão da Geografia Regional, não significa que os geógrafos que a usavam consideravam a natureza imóvel, imutável. Ao contrário, tinha-se convicção de que os elementos que a compunham tinham dinamismo, isto é, eles interrelacionavam-se uns com os demais. Entretanto, esses elementos eram estudados de maneira separada e não integrada.


A preocupação da geografia moderna está na interação dos fatos físicos com os biológicos, sobretudo, com o homem. A Geografia tradicional dividia os seus estudos em dois setores bem marcados, que seguiam paralelos e nunca se completavam. De um lado, os fatores físicos e, do outro, os fatores humanos. Não se atentava para o fato de que os elementos geográficos, deviam ser estudados em conjunto e não separados – e Humboldt, no final do século XVIII, já chamava atenção para esse fato. Para ele, os fatores naturais não se davam sozinhos, mas, eram fruto de um jogo mútuo, cada um influenciando o outro. Em meados da década de 1820, Karl Ritter, um naturalista alemão, afirmava que os elementos da natureza estavam interligados e funcionavam como sistemas (sic) e o homem não podia ser separado dela.


A análise feita pela Geografia física é sintética, isto é, o geógrafo analisa os fatores geográficos e procura as suas interrelações. O geógrafo busca fazer uma síntese das interrelações dos sistemas naturais e humanos. Na síntese, procuram-se as partes que formam o todo, que são estudadas em conjunto – e não em separado – salientando as relações de interdependência existentes entre elas. Não significa separar, apartar, as partes do todo, mas identificá-las, analisá-las dentro do conjunto. Dessa forma, tem-se uma visão integrada do todo – o sistema – em que os elementos que o formam são identificados e analisados dentro de um ponto de vista dito dinâmico ou sistêmico ou, ainda, integrado.


Uma viagem pela Ilha de Santa Catarina vai nos mostrar uma expressiva variedade de organizações espaciais ou de paisagens. Cada setor da Ilha tem as suas peculiaridades – são elas que constituem a organização espacial de cada setor: o sul da Ilha é diferente do norte, e assim por diante. Ao nos deslocarmos do sul para o norte, poderemos ver a sucessão de paisagens organizadas, cujo todo constitui a Ilha. A organização subentende os elementos físicos e os biológicos, nos quais se incluem os elementos humanos ou antrópicos. O estudo da Ilha não pode ser feito separando as paisagens, mas, sim, estudando-as todas dentro do conjunto da Ilha.


Evidentemente, podem-se estudar as paisagens individuais empregando-se o mesmo método – as diversas partes que compõem a paisagem em questão, chamadas de subsistemas, são determinadas segundo as suas características específicas e estudadas no conjunto da paisagem.

Importante ter em mente de que a síntese dos elementos da paisagem geográfica não é feita neles, propriamente ditos, mas nos processos que os organizam. Em outras palavras, o que importa são as associações, não o fato isolado, não o elemento isolado, mas a maneira como ele se interrelaciona com o vizinho.

Entre os diversos elementos que compõem uma paisagem correm fluxos de energia e matéria – por exemplo, energia solar, energia do trabalho do homem, a energia contida na chuva, que causa erosão, etc. São esses fluxos que organizam a paisagem. Por isto, eles são os mais importantes componentes dos sitemas. Mais adiante falaremos disto.

Troppmair (1989) enfatiza este preceito ao dizer que “(...) não devemos estudar o meio físico como produto final, como objetivo único e isolado em si, mas como o meio em que os seres vivos, entre eles o homem, vivem e desenvolvem suas atividades”. Traduzindo, a geografia física estuda os mecanimos que atuam no meio físico integrado – é esta a sua meta. Este estudo considera o homem como o principal agente modificador da natureza e ele é colocado no centro do estudo. Todo o estudo da geografia física gira em torno das atividades do homem e das modificações e transformações que ele introduz no meio físico. A maneira como a natureza responde ao homem as modificações que ele lhe impõe, é outro aspecto desta dinâmica integrada.

Desta forma, o homem altera o espaço geográfico organizado, isto é, transforma a paisagem geográfica e lhe confere novas organizações, que mudam constantemente, isto é, ele cria novas paisagens. Cada paisagem que o homem cria é um reflexo da sua cultura. Se atentarmos para a colonização do Estado de Santa Catarina, veremos paisagens diferentes – Blumenau, colonizada por alemães, Criciúma, de origem italiana, e Florianópolis, de originada na colização portuguesa e açoriana, são paisagens que mostram culturas diferentes. Por isto, criou-se a expressão paisagem cultural para designar a paisagem criada pelo homem.

Mas a organização espacial não é apenas de origem humana. Há uma organização espacial natural, estabelecida pela própria dinâmica da natureza, na qual o homem não interfere.

Há leis naturais nas quais o homem não tem qualquer influência. Por exemplo, na floresta de araucária, podemos notar três regiões distintas, cuja organização espacial o homem não muda. No sul, no planalto, a araucária convive com a espécie canela lajeana – que também aparece na floresta tropical atlântica. Esta organização resulta unicamente devido ao clima, aos solos e ao relevo da região, em que as temperaturas médias anuais estão por volta dos 15º C. No centro do Estado até o norte, predomina uma associação da araucária com a imbuia – a média anual de temperatura é superior a 15º C. Para oeste, aparecem gradativamente espécies subtropicais, porque a média de temperatura está acima dos 18º C. Uma quarta área aparece no sul do planalto, no vale do rio Uruguai e dos seus afluentes, quando a araucária é substituída pela floresta subcaducifólia, com espécies subtropicais – veja a figura ao lado da vegetação original do Estado de Santa Catarina.










A cor amarelo-clara representa a vegetação litorânea (restinga). A cor verde-escura é a floresta ombrófila densa. O ocre são os faxinais. O verde claro, no extremo sul, a floresta nebular da Serra Geral, e que também aparece na Serra do Mar, ao norte. O verde-limão é a floresta de araucária (Araucaria angustifolia). O alaranjado, os campos. O amarelo, a floresta subtropical subcaducifólia do rio Uruguai.

Esse tipo de organização é puramente natural e o homem não tem qualquer interferência nele. As transformações ocorridas no planalto, de origem humana, não mudam as leis naturais. Se o homem fosse retirado da região, a vegetação retomaria da mesma forma como no passado. Entretanto, a formação não teria, nunca mais, as mesmas características que as anteriores. Desde que o solo foi modificado com a retirada da vegetação endêmica e usado na agricultura ou em reflorestamentos ou como pasto, as modificações que ele sofre são significativas – muitas situações podem ser criadas. Por exemplo, o solo pode ficar mais seco, mais úmido, mais ácido ou mais alcalino, mais arenoso ou mais argiloso. Entretanto, a classe de solo não muda – a na sua evolução, que pode durar milhares de anos, o solo passa por várias fases até chegar na atual, isto é, na classe atual. A classe resulta da evolução do solo e, pois, não muda. Apenas algumas propriedades do solo são modificadas.

Quando se disse acima que a vegetação retornaria como no passado, pretendeu-se dizer que a cobertura vegetal ocuparia novamente os solos. As alterações que as propriedades do solo sofrem podem influenciar a flora e trazer outras espécies, que não existiam antes. Como o clima do planalto – estamos nos referindo ao Planalto Meridional – é temperado e subtropical, a flora também terá que se adaptar às condições climáticas. Portanto, será também, como agora, uma flora com aquelas características – isto é, espécies adaptadas ao clima atual.

Os processos naturais não mudam, por mais que o homem intervenha neles. Alguns podem ser ligeiramente ou totalmente alterados, mas outros não o são. O homem pode tornar um solo mais ácido, menos ácido, mais úmido ou menos úmido, pode provocar um processo de desertificação numa região, mas não muda o tipo de solo – ele continuará o mesmo de sempre.

Pode alterar as condições climáticas de uma região – como nas cidades – mas não muda o clima geral. Pode, ainda, rebaixar uma montanha, mas o relevo regional continuará o mesmo.

Tudo isto é conseqüência da dinâmica da paisagem geográfica. É esta dinâmica que a geografia física estuda a fim de conhecer a estrutura da paisagem, e poder, então, compreender a analisar a sua organização espacial e correlacioná-la com outras paisagens.

Por outro lado, isto permite à Geografia fazer um diagnóstico e um prognóstico do território, o que facilita a realização de estudos para a implantação de projetos de planejamento territorial ou ambiental.

De tudo isso, conclui-se, finalmente, que o objetivo da Geografia Física é estudar os processos dinâmicos que organizam o espaço geográfico e lhe conferem uma hierarquia, levando-se em consideração os processos interativos do meio físico com o meio biológico e antrópico (cultural). Portanto, o homem está, necessariamente, incluído no estudo da Geografia Física, porque ele ocupa o meio físico e o modifica em maior ou em menor grau. O homem não pode ser excluído da análise dos fatores físicos, pois que é também parte integrante desses fatores.






[1] Cervo, Amado L. & Bervian, Pedro A. – Metodologia científica. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1983, 249 p.